Por Fernando Cabral
Uma arte criada por um homem que se dedicou com afinco ao trabalho que exercia e estabeleceu uma ideia, no mínimo, necessária para os dias de hoje em que a violência assume proporções alarmantes não só no plano físico mas também no intelectual-político. Morihei Ueshiba foi uma criança frágil e muito sensível. Na infância gostava de ler e estudar não só as disciplinas que mais gostava como física e matemática mas também os clássicos da literatura chinesa e praticar técnicas como o chinkon. Pelo que se pode constatar, o menino tinha um lado espiritual muito forte. Há depoimentos de familiares a respeito dessa natureza peculiar do mestre Ueshiba quando criança. Uma certa feita, quase ingressou na vida sacerdotal incentivado pela sua mãe ao observar o fascínio que seu filho possuía pelos relatos dos milagres de Kobo Daishi. Porém, o pai Yoroku o levou rapidamente a ingressar nas artes marciais a fim de não ver seu filho se tornar um jovem sacerdote.
O interessante dessa história é que foi por causa do estado de saúde do próprio pai Yoroku e posteriormente do seu falecimento que Morihei Ueshiba encontrou consolo na religião Omoto-Kyo e consequentemente a identificação com os ensinamentos da referida crença. Nesse período teve como seu mentor o mais novo líder espiritual da seita, Onisaburo Deguchi que, além de o confortar, sugeriu criar seu próprio método e abrir sua escola a partir das orientações contidas nos ensinamentos. Assim, Ueshiba se tornando um mestre nessa arte poderia com clareza transitar entres os mundos divino, espiritual e material.
A influência de Deguchi foi tão importante na vida do talentoso mestre do Aikido que o fez viajar para a Manchúria na China com o intuito de edificar uma nova civilização alicerçada na Verdade, Bem e Belo - o Paraíso Terrestre. Mas como esse assunto sai um pouco do foco, ficarei por aqui e vou me ater apenas ao aspecto relacionado as artes marciais. Todavia, a orientação transmitida ao mestre Ueshiba era ter como objetivo empenhar força e emergia em duas disciplinas importantes: o jujutsu e o kenjutsu. Para surpresa de todos a arte marcial menos indicada por Onisaburo, para a nova caminhada do Fundador foi o Jujutsu Daito-Ryu do seu respeitoso e admirável mestre Sokaku Takeda (1859-1943) por não possuir em seu caráter originário elementos que favorecessem a união do homem com Deus.
Com todos esses fatos observados pude constatar que a criação do Aikido recebeu a influência de diversos setores da vida do fundador, que recaiu sobre a família, as artes marciais e a religião. A começar pelo pai Yoroku que introduziu a marcialidade no curriculum do menino Ueshiba, a mãe que quase o transformou num jovem sacerdote e não menos importante, mas que atribuiu o toque final e direção a propositura do O´sensei, a figura carismática de Deguchi que o atraiu para uma nova filosofia de vida que o fez pensar numa arte nova que pudesse melhorar o gênero humano e estabelecer a harmonia entre os povos.